sexta-feira, 14 de julho de 2017

  Olá, pessoal Há uma semana cheguei ao Brasil e me despedi do lar que me pertenceu por um período de tempo determinado. Sabia que nã...

De volta

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 Olá, pessoal


Há uma semana cheguei ao Brasil e me despedi do lar que me pertenceu por um período de tempo determinado. Sabia que não seria para sempre e desconhecia o que esse tempo poderia me alterar. Ainda sou nômade, mas faço lar no lugar onde meu coração está.

Era Portugal a minha pátria, Aveiro a minha casa, suas ruas o meu rumo, a Universidade o meu prumo, a rotina a minha inércia, os amigos a minha singela alegria, os professores a minha gratidão, o meu estímulo.


Na última semana, antes de voltar ao Brasil, fui à Itália. Estabeleci um pouso em Milão e adormeci lá por três dias. Nas manhãs de sol visitei Turim e Veneza, cidades vizinhas. Na manhã de chuva parti para Roma. Pernoitei nessa cidade para deixar minhas coisas de viagem e conheci Pisa e Florença. Voltei a Portugal em uma manhã tranquila que ainda não se conhecia os raios de sol, era madrugada quando me dirigi ao aeroporto. 


Ganhei as ruas, errei pelos cantos, os braços cresciam abraçando as cidades, os olhos ficavam úmidos de tanto observar, o tédio não existia, o deslumbre pouco a pouco era substituído pela realidade. Pensava embaixo de árvores, comia em praças, conversava com estrangeiros. Vi a pobreza mesclada com a riqueza, toquei lugares antes vistos apenas nos livros, na internet. Olhei para o céu, naquele azul brilhante e pensei: Nada há de novo embaixo de você!


Foi no trem, de Roma à Pisa, que conheci a Zita. Senhora animada, gentil e simpática, brasileira do Rio de Janeiro, casada há 25 anos com um Italiano. Estava voltando de férias com a família. Depois de trocarmos histórias ela me convidou a ir a sua casa e me lembro direitinho ela dizer, com aquele sorriso largo transportando doçura: “Vá à Pisa e depois me encontre em Firenze, vou levar você para tomar açaí, você gosta de açaí, né?”. Fiquei tão feliz por passar aquele último dia na sua presença e por poder contar essa história que só foi possível por enfrentar o medo da viagem sozinho, em um país diferente, descobrindo e sendo descoberto.


Durante esse tempo, posso dizer a vocês que superei alguns medos e alcancei novas colinas. É como se você estivesse em um lugar que enxergasse um monte e se permitisse caminhar até lá. Há várias intempéries até o destino final, mas você supera, chega ao topo do monte, ao cume; fica feliz, respira e observa que há outros, de outras formas e tamanhos e que aquilo que lhe trouxe até ali só foi possível, porque você se permitiu.


Continuo com algumas convicções que fazem parte de mim, mas alarguei alguns pensamentos como se fosse um elástico, diferente deste, ele não volta ao tamanho anterior, o meu elástico está maior e sinto que consigo ampliá-lo, se não me corromper pela invisível inércia e pelo conforto do medo. 
De repente estou de volta. Escrevo assim, pois o tempo é uma percepção pessoal. Há o tempo que brinca, que rasteja, que voa, para mim esse tempo é muito versátil. Em uma semana visitei amigos, revi carinhas dos animais de estimação, e senti o calor de abraços que saciaram saudades adormecidas. Algumas coisas mudaram por aqui, outras se mantêm até hoje; na vida de amigos, nas ruas que caminho, na minha cabeça que penso. 


No próximo semestre estarei de volta aos corredores da Gloriosa, estou muito feliz em voltar para reencontrar os meus queridos da UFTM. Estou muito empolgado para as próximas disciplinas, e como sempre, um pouco inseguro em relação ao futuro. Ah, vida de nômade não é fácil, mas o que é fácil nessa vida? E fácil é só uma palavra a que você, leitor, carrega o sentido adequado a sua realidade.


Vemo-nos em breve, até logo.





 A Disfunção. Pág. 381


 Sobre Importâncias. Pág. 388



 Comportamento. Pág. 376

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