Começo este texto advertindo o
que aqui escreverei reflete a minha perspectiva, sendo assim, espero que
conceba essa leitura a partir de uma visão limitada e condicionada a uma única vivência.
Posto essa observação em evidência,
inicio dizendo que esse tempo que tenho estado por aqui, Aveiro, Portugal, tem
contribuído muito para o meu alargamento linguístico e a minha percepção de
mundo. Essa experiência me trouxe a
oportunidade de conhecer diversas variantes do português falado por nativos e
não nativos. Ouvi chineses, russos, portugueses, espanhóis, colombianos,
polacos, só para falar de alguns, há outros, mas não vale a pena enumerá-las exaustivamente aqui,
já dá para ter uma noção que são diversas abordagens linguísticas, né?
Este texto será pautado pelo
léxico, as palavrinhas diferentes que usamos para dizer a mesma coisa. Embora
pareça fácil, nem sempre soa da mesma maneira. Tenho a felicidade de conviver
com pessoas muito solícitas e divertidas, prontas a repetir, a achar graça sempre
e a explicar em seguida. Também me proponho a fazê-lo e gosto muito dessa
“brincadeira”.
Vamos lá, começando...
Aprendi a ouvir com mais atenção
às expressões e adotar, mentalmente, a correspondência da variante brasileira
para entender melhor o interlocutor. Agora está a fluir sem grandes problemas.
Não faz mal em ouvir que determinada palavra é estranha ou se calhar nunca a ouviram.
Coube a mim a curiosidade de entender que as influências africanas em nossa
variante são mais evidentes que eu pensava. Quando eu ouvi, pela primeira vez: “O
seu rabo está sujo” confesso que foi bem estranho, mas não me espanta mais. É
algo do tipo: “A sua bunda está suja”. Na Universidade há muitas árvores, grandes e
pequenas, gosto mundo de sentar embaixo delas, na grama, esperando o vento
passar dando boleia (carona) aos minutos do dia.
O pouco, ou quase inexistente, uso
do gerúndio e o constante uso da segunda pessoa do singular (tu) são
impressionantes no começo, soa até mais formal, mas isso já é algo muito comum
no meu cotidiano. Se eu uso você, alguns dizem que posso tratar por tu, afinal
o pronome você é um tratamento muito formal, eles dizem: “Tu estás a chamar-me
de velho?” Imaginem? É muita piada (engraçado).
Pois! Gosto também do “pois” para
nós equivale ao: “Sim, verdade, claro, lógico...”. Usam para dizer claro que sim, ou claro
que não, ai fica: Pois sim, pois não. Para entender melhor: “Posso usar a sua
chávena?” eu digo: “Pois” e está tudo resolvido, entendido. A chávena dos meus
amigos é igual a minha xícara, mas quando falo xícara alguns dizem: “Que
palavra velha!” Oxê! Como assim? Palavra velha? É engraçado. Ah, engraçado é
interessante, aqui, se calhar, a professora pode dizer que o seu texto está
engraçado e você ficar sem perceber, afinal o entender é perceber.
Aqui se magoa quando cai e se sofre
algum tipo de escoriação está aleijado. Muito louco, não? Construo na minha
cabeça as equivalências: Magoar – Machucar, ficar roxo, bater; Aleijar –
Cortar. Aqui o caqui se chama dióspiro. Por
favor, procure o nome científico do caqui, se calhar tu entenderas o motivo de
chamá-lo assim por aqui. Ah, se calhar é o nosso talvez, também tem talvez, mas
o se calhar impera.
Para a semana é o mesmo que para
a próxima semana. Zona é lugar, fixe é legal, giro é bonito. “Apetece-te
gelado?”, “a sério?”, algo como “Ce gosta de sorvete? – Você quer sorvete? –
Você gosta de sorvete?”, “Tá de zoeira? – Sério? – Sérião?”.
Na altura (no começo) aconteciam
muitos risos, mas agora é tão natural que nem tem mais piada (graça). E olha
que não estou a falar (falando) sobre a pronúncia e os acentos gráficos,
algumas palavras apresenta silaba tônica em outra parte (Como é o caso de
Madagascar e cocô) e é comum a troca do acento circunflexo pelo agudo (Como
António).
Não atribuem sentido quando digo:
“Nossa, que catinga. Meu G zuis que fedô!” quando esquecem algum comida na
geladeira, é normal dizer isso, ou quando eu digo: “A dona Pureza irá xingar a
gente” eles me olham com uma cara de interrogação e eu repito a proposição com
uma paráfrase mais adequada: “A dona Pureza vai ralhar connosco, (Sim, com 2 N, de arrepiar, não?)
vai falar mal”. (A dona Pureza é uma senhora que vem aqui na residência todas
as segundas-feiras para fiscalizar, advertir... às vezes é simpática).
Compartilhamos quase tudo nessa
residência universitária. O comando (controle remoto), o frigorífico
(a geladeira), o estendal (varal) e várias outras coisas como as noites na sala de estudo e até algumas
inseguranças acadêmicas.
Temos que deitar (jogar) fora o lixo sempre quando está cheio, no nosso condomínio há um lugar que temos que levar os sacos lá, é como uma lixeira gigante comunitária.
Temos que deitar (jogar) fora o lixo sempre quando está cheio, no nosso condomínio há um lugar que temos que levar os sacos lá, é como uma lixeira gigante comunitária.
Ouço muito o “estou cheio de...”
no lugar do nosso “estou com...”, portanto escuto: “estou cheio de fome, de
saudade...” e imagino “Estou com fome, saudade”.
Aqui toda a gente faz, ao invés
de: todo mundo faz. Como vai é uma pergunta que sempre gera dúvidas, um amigo
meu sempre diz: “Soa estranho!” e eu pergunto: “Como eu digo então?” ele sorri
e diz: “Ah... Diz: Tudo bem? Estas bom” Não acho algo tão diferente assim.
A nossa pergunta habitual: Oi?
(No sentido de não entendi o que você quer dizer, poderia repetir) não é algo
que eles atribuem sentido rapidamente e um amigo meu até confidenciou que o
irrita (Hahaha... eu acho isso tão engraçado). Portanto o nosso “Oi?” é substituído
por “Não percebi”.
Espero que vocês não tenham
ficado muito confusos com este texto. Eu gosto muito dessas diferenças e me
divirto com elas, pelo visto não sou apenas eu, os amiguinhos também acham
muita piada.
Bom, pessoal é isso! Boa semana e
até a próxima.
Adorei Angelito!!! Se montar um glossário depois, me envia!!!
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